Para Bataille (1987, p. 15) a definição parte da atividade sexual de reprodução, da
qual o erotismo seria uma forma particular. O autor explica que o homem, diferente do
animal, transformou essa atividade sexual em erótica. Completa dizendo (ibidem, p. 95) que o
erotismo não está ligado à consciência de gerar, quanto mais o gozo erótico é pleno, menos se
está preocupado com a geração de filhos.
Segundo Bataille (ibidem, p. 14), a reprodução sexual que, na base, faz intervir a
divisão das células funcionais, leva a uma nova espécie de passagem da descontinuidade à
continuidade. O espermatozóide e o óvulo são, no estado elementar, seres descontínuos, mas
que se unem e, em conseqüência, estabelece-se entre eles uma continuidade que leva à
formação de um novo ser, a partir da morte, do desaparecimento dos seres separados. Ou
seja, a reprodução está intimamente associada à morte, e é desta relação entre a continuidade
e a morte que surge a fascinação que domina o erotismo.
Entre os costumes que diferem os homens dos animais, Bataille cita os que têm por
objeto a morte e a sexualidade, sendo que os primeiros precedem historicamente os últimos,
levando a crer que os interditos e as transgressões referentes à questão da vida e da morte são
anteriores aos que se referem ao prazer e ao erotismo.
Para Bataille (id., p. 62), o que une estes dois movimentos aparentemente
antagônicos - interdito e transgressão - seria a violência: o interdito a proíbe e a transgressão a
libera. Em relação à morte, há elementos históricos e antropológicos suficientes para explicálos:
o ser morto deixa de produzir, e o grupo social em que vivia proíbe qualquer costume que
possa comprometer a sobrevivência coletiva.
_ trecho do artigo 'CRIME DELICADO: EROTISMO E ARTE' de Carla Gulka